Sunday, April 02, 2006

Libero

Ao som de guitarras e cítaras, a luz quase extinta do pôr-do-sol penetrava as frestas da janela, e enquanto a água fria escorria pelo corpo, pensamentos vagos povoavam-lhe a mente.
De súbito, sentiu a incontestável necessidade de dar vazão às sensações e sentimentos jamais ouvidos; permitiu que tomassem-lhe o corpo; logo, encontraria-se completa.
Dançava, dançava... em estado de plenitude; pela primeira vez, entregue a si. O espelho refletia-lhe a alma, pois já não havia derme; sim... camada já tocada por mil mãos, dissolvia-se em torpor a cada acorde... a cada raio púrpura que sumia no céu escuro.
O som pulsava no ritmo de seu coração acelerado. Como sentia-se bem... por fim, um encontro consigo. Aquela figura estranha que nunca fora vista, justamente por estar tão perto! Na vida, as coisas são assim; o mais próximo, sempre é alcançado por último.
Hesitou por um segundo; será que devia? Seria um pecado “ousar”? Sim! E isso era bom. As mãos cansadas do mundo encontraram agasalho em si mesmas e em todo o corpo... tocava-se. Um sorriso jamais experimentado tomava forma no rosto alterado, e entre calafrios, suspiros e suor, deitara o corpo já sem forças no chão.
A água ainda caía, enquanto as estrelas surgiam. Já não havia mais música ou movimento; imóvel; frio. Um brilho mais-que-perfeito aparecia nos olhos. Uma lágrima... e fim.
Morte? Vida; a volta ao deserto do cotidiano, onde as noites são frias, e os dias também. Levantou-se, fechou a torneira e abriu os olhos. Vestiu-se de trapos e decência, e mais uma vez estava na hora de morrer para si, viver para o mundo e seguir adiante...

A VIDA CONTINUA
R.S. Vasconcelos

10 comments:

Anonymous said...

saudads do meublog que dá,quando leio isso...
vc escreve muto bem, rapaiz.... adoro seiu estilo... e lembra oq ue eu gostaria que o meu fosse..
rsss
abs!

Anonymous said...

...Vestiu-se de trapos e decência, e mais uma vez estava na hora de morrer para si, viver para o mundo e seguir adiante...

Só mesmo vc meu amigo... soh alguem mt iluminado p traduzir td esse sentimento.

Anonymous said...

Hummmmmmmmmm
simplesmente MA RA VI LHO SO!!!!
Sem mentiras e exagerosm, eu ameeeei mesmo. Nossa, são poucos textos que me chama tanta atenção assim. Eu adoro interpretação, e esse poema daria um belo monólogo???...
Rsrsr, vc vai ter que recitar um poema lindo desses quando eu for aí em Salvador!!! Vai sim, nem relute!!!
O que eu mais gostei no texto foi essa identificação que eu senti com a situação, e que é comum a muita gente. Quem nunca delirou com algo que gostaria de ser, ter ou sentir... e teve que guardar esses desejos, pelas limitações de sua vida?..........
Mas o desfecho é o mais interessante: "A VIDA CONTINUA"...

Ai rick, só vc pra trazer isso pra gente!!! abraços , meu super migo!!!!

Anonymous said...

Sem palavras!!
mta grandeza nesse texto!

= S

Anonymous said...

Rick!!!!!
Que tudo....suas palavras são muito bem colocadas, ótimo seu texto, como sempre...De mta preciosidade, gostei muito!
Parabéns por este dom, e por saber perfeitamente expressar este....
Um hiper beijo!!!!

Anonymous said...

faço questão de voltar aqui com tempo. este texto..faço minhas as palavras desse pessoal aí em cima (ou embaixo?)

rs, tirando as que querem que vc arranje um diploma em 2 semanas ^^

"...Vestiu-se de trapos e decência, e mais uma vez estava na hora de morrer para si, viver para o mundo e seguir adiante..."

realmente..disse tudo ^^

Anonymous said...

meu amigo rick, vc é mto chique... texto legal, um dia eu kero se como vc. Beijossss!!

Anonymous said...

Ese texto me faz ver a vida não mais de um jeito prático. E sim, profundo, e analisador. Hum, é essa a impressão q tenho.

Anonymous said...

Ah, vê aí. Esa porcaria só atualiza qdo ela quer.

Anonymous said...

"A volta ao deserto do cotidiano, onde as noites são frias, e os dias também..."

Porra bicho, me empresta um pouquinho da tua sutileza, não gosto muito de pagar pau para os outros não, mas esse texto teu é um dos meus preferidos...

Difudê!